Hoje vim mais cedo. Tenho sentido tanta saudade...
Saudade dos meus pais, vontade de abraçá-los, de tê-los comigo. Uma saudade mais forte do que o normal.
Não pude dividir quase nada com eles. Medos, eu só pude dividir um, com meu pai: medo de morrer. Eu tinha tanto medo de morrer! Lembro-me dele, ao meu lado, de madrugada, conversando comigo sobre isso... Eu tinha medo de fechar os olhos e não acordar mais... E ele me confortou, aos poucos fez-me vencer esse medo... E eu era tão criança ainda...
Quantos mais ele teria me ajudado a vencer se estivesse comigo agora? Ele foi um pai tão presente!
Não pude contar minhas angústias de adolescente para minha mãe, não pude compartilhar com ela minhas vitórias no colégio... E como isso era importante para ela! Como ela se orgulharia!
Não pude contar-lhe de minhas paixões, dividir com ela a insegurança que sentia...
Faz 32 anos que não vejo meus pais. Podemos, sim, nos acostumar com a falta deles, com a saudade, mas entender... creio que não. Acostumamo-nos com o que é ruim também, infelizmente...
Penso que agora eles são anjos e que olham por nós, mas queria-os aqui, perto de mim. Queria vê-los com meus filhos, acompanhando-os, abraçando-os, como sei que gostariam de fazer.
Gostaria que eles se orgulhassem de mim... Toquei piano para minha mãe, estudei por ela também. Ela queria tanto que eu fosse diferente, que lesse menos, conversasse mais, que fosse menos tímida...
Os caminhos que segui, creio que não seriam os mesmos se eles estivessem aqui para aconselhar-me, para apoiar-me. Tive sempre comigo minha irmã/mãe/amiga, Mônica, claro! Mas ela era tão menina, tão frágil na sua força... E eu fui tão fraca tantas vezes, eu sei...
Agora, talvez, por minha vida, enfim, estar onde deveria sempre ter estado, a ausência de vocês dói mais. Ainda tenho inseguranças, ainda queria colo...
Mas confio que Deus tem guardado, ao lado de vocês, o meu lugar. E que um dia estaremos juntos novamente.
Peço licença à poeta para alterar seu poema, colocando-o no plural:
Papai e mamãe
Se vocês soubessem
a falta que me fazem!
Eu sei:
vocês voltariam
e não morreriam
nunca mais.